quinta-feira, 7 de julho de 2011

a vida e o fim

A menina, de 14 anos, toma veneno, um inseticida destes usados na lavoura, dando fim a própria vida.
Nada a prenunciar tal desfecho. Dançara quadrilha, fora eleita rainha num destes festivais de época, nadara pela manhã nas piscinas, belo conjunto natural, na beira do talhado da serra.
A comoção, na família e comunidade, foi proporcional ao gesto.
O que pode levar uma pessoa, ainda mais em plena descoberta da vida, a ato tão antinatural? Faz parte da natureza de qualquer forma de vida uma luta tenaz e denodada por sua preservação.
Coisas do ser humano, por certo. Só ele é capaz de criar tal desprezo pela vida. Pelas várias formas de vida existentes na natureza, pela de seus semelhantes e até pela sua própria. Que ele considera a única a ter importância, dela podendo dispor a seu bel-prazer. Seria, então, apenas o exercício do livre arbitrio: minha vida de nada vale e é melhor por termo nela.
Difícil de aceitar. Para mim, vivendo mais de meio século, sempre a esperar que a vida ofereça algo de novo, é duro admitir tanta frieza, aos 14 anos, idade que nem a lei  considera alguém capaz de discernir entre o certo e o errado.
Desencanto, desesperança?
A gente sempre tá querendo uma explicação para o que nos intriga ou nos perturba. Achado um porque, ficamos mais calmos, mais seguros, com a certeza da volta do mundo aos trilhos da normalidade. E damos preferência a explicações que nos deixem fora dos problemas. O que mais prezamos é nosso sossego. Mas não será hora de lembrarmos que fazemos parte do gênero humano? E que calor humano, convivência, solidariedade, o sentimento de fazer parte de um grupo são poderosos antídotos contra a depressão e contribuem, de forma eficaz, para alimentar a esperança?
Se diz que a esperança é a última que morre e que enquanto há vida, há esperança. Penso ser mais correto: enquanto há esperança, há vida.
Talvez, preocupados com a sobrevivência, ocupados em conseguir o mais que pudermos no mais curto espaço de tempo, deixemos de olhar o mundo a nossa volta, sem notar que o futuro é o que construimos agora. Mornos, vamos levando a vida com indiferença. Conformados, achamos que  o mundo é isto mesmo, nada temos que fazer, além de manter o umbigo limpo.
O egoísmo não nos leva para o céu. Nem nos dá condições de uma vida melhor, aqui na terra.
Que mundo estamos oferecendo para as novas gerações? Quais valores prezamos?

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